sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

EQUIPAS DO PASSADO - SÉCULO XXI

2003/04 - PARTE II

Em termos internacionais, a época abriu com a disputa da Supertaça da Uefa, jogada no Estádio Louis II, no Mónaco e que pôs em confronto, o Campeão europeu, AC Milan e o vencedor da Taça Uefa, o FC Porto.





















Perante um colosso do futebol europeu, a equipa do FC Porto teve um comportamento exemplar. Os Dragões fizeram um grande jogo, bateram-se de igual para igual, disputando o jogo pelo jogo. Não se atemorizou com um adversário que entrou de rompante e teve a felicidade de marcar cedo. Sabe-se como é difícil bater as equipas italianas quando se apanham em vantagem no marcador. Foi mais uma vez o que aconteceu, apesar da atitude competitiva dos azuis e brancos. Derrota algo amarga, tendo em conta a performance portista, mas a vida tinha que continuar


A Champions League estava transformada numa prova milionária, talhada para os "tubarões" europeus. Contudo, o sonho comanda a vida e não paga imposto. Depois de Sevilha, o topo da Europa deixara de ser uma miragem para se tornar um objectivo cada vez mais real. Todos nós, adeptos, atletas, equipa técnica e responsáveis portistas, sentimos que adicionando um pouco mais de ambição à organização, classe e trabalho honesto e dedicado, imagem de marca da equipa de Mourinho, teríamos tudo para sermos ainda mais felizes. 

O sorteio colocou-nos no Grupo F com o Partizan (Sérvia), Real Madrid (Espanha) e Marselha (França).

O primeiro embate teve lugar em Belgrado, frente ao Partizan treinado pelo alemão Lothar Matthaus. O Porto fez uma exibição cautelosa com uma primeira parte de domínio que lhe garantiu o ascendente no resultado com um golo de Costinha aos 22'. Outros ficaram por marcar deixando para a segunda metade uma reacção da equipa da casa que pressionou e acabou por igualar a partida aos 54'. O empate final acabou por ser justo.


A segunda jornada, no Estádio das Antas, proporcionou aos adeptos portistas o privilégio de ver evoluir uma autêntica constelação de estrelas, os galácticos do Real Madrid (Figo, Zidane, Ronaldo (o brasileiro), Solari, Roberto Carlos...), comandados por Carlos Queirós.

Os Dragões, talvez empolgados pela fama dos espanhóis rubricaram uma exibição deveras prometedora só atraiçoada pela eficácia atacante dos categorizados jogadores adversários. O Porto até marcou cedo, aos 5' por Costinha e produziu um futebol vistoso e personalizado. Acabou por sofrer uma derrota tão pesada quanto injusta (1-3) muito à custa da soberba exibição do guardião Casillas e da classe de Solari e Zidane.

O terceiro jogo disputou-se no Estádio Vélodrome frente ao Marselha onde os azuis e brancos voltaram a deixar uma imagem muito positiva, concretizando uma exibição de grande classe, raça, determinação e coragem. Começou a perder aos 24' com golo de Drogba, mas deu a volta ao marcador por Maniche (31'), Derlei (35') e Alenitchev (81'). Marlet (84') encerrou a contagem fixando o resultado em 2-3.

Os franceses deslocaram-se ao Estádio das Antas na 4ª jornada. Era importante vencer para garantir o 2º lugar do Grupo. O Porto não só venceu como convenceu. Explanou no terreno um esquema que lhe permitiu comandar de princípio ao fim todos os parâmetros do jogo. Foi dominadora, controladora e personalizada a exibição portista. Alenitchev (20') foi o autor do golo que ditou o resultado final: 1-0.




















Equipa titular que defrontou o Marselha, nas Antas. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, , Nuno Valente, Ricardo Carvalho, Benny McCarthy e Costinha; em baixo: Bosingwa, Maniche, Paulo Ferreira, Derlei e Alenitchev.

A 5ª jornada levou às Antas os sérvios do Partizan. O FC Porto apresentou-se coeso, compacto e muito seguro. Tinha a consciência da importância de mais uma vitória em casa, pois esta garantiria definitivamente a passagem aos quartos-de-final. E foi o que aconteceu. McCarthy (23' e 50') fez os golos de um resultado que acabou em 2-1, com o tento forasteiro apontado aos 90' por Delibasic.

A visita a Madrid para defrontar o Real , na 6ª e última jornada da fase de grupos foi um jogo para cumprir calendário já que as equipas em presença tinham já garantido as duas primeiras posições e respectivo acesso à fase seguinte. Havia no entanto o prestígio para defender, um valor monetário para discutir e principalmente um resultado para rectificar. Foi com este espírito que os Dragões pisaram o relvado do Santiago Barnabéu.

Despidos de preconceitos ou complexos assumiram o jogo e nem o golo merengue aos 9', por Solari, conseguiu esmorecer o desejo de construir um resultado positivo e uma exibição dignificante. Apesar do empenho ainda não seria dessa vez que a vitória sorriria, mau grado as oportunidades criadas. Derlei (34') fez a igualdade de grande penalidade, tornando o FC Porto na primeira equipa portuguesa a pontuar no místico Estádio espanhol.

O Estádio do Dragão, estreado oficialmente em competições europeias, foi o palco de um jogo de sonho da 1ª mão dos oitavos-de-final. Nada mais nada menos que o colosso e milionário Manchester United de Cristiano Ronaldo, foi a vítima de um Dragão de luxo, numa noite de inspiração que desbaratou os ingleses. Pena que o resultado (2-1) tenha ficado bem longe do que seria justo, tal o banho de bola com que os portistas brindaram o seu famoso adversário. Fortune (13') inaugurou o marcador e McCarthy (28' e 77') fechou a contagem. O 2-1 acabou por ser um resultado lisonjeiro para os ingleses, deixando tudo em aberto para a 2ª mão.

Old Trafford ia receber pela sétima vez uma equipa portuguesa. As seis anteriores partidas tinham redundado em tantas outras vitórias para o Manchester United, uma das razões que levaram os ingleses a encarar esta eliminatória com muito optimismo. O estádio estava cheio e vibrante, num ambiente infernal com os cânticos característicos dos britânicos. O Porto sabia das dificuldades que iria encontrar e preparou-se anímica e tacticamente. Scholes aos 31' deu vantagem no marcador e na eliminatória, tornando o ambiente ainda mais hostil. Os Dragões sabiam que podiam fazer história e continuaram a lutar com coragem, frieza, calculismo, talento, e cultura táctica. Souberam debelar situações de apuro e puseram à prova a capacidade de sofrimento. A dois minutos do fim Costinha sentenciou a eliminatória com um golo de rara oportunidade, calando Old Trafford e deixando os adeptos ingleses com expressões de incredibilidade. Estavam abertas as portas do quartos-de-final.

Os franceses do Lyon foram os nossos adversários. Coube-lhes deslocarem-se ao Dragão , na 1ª mão, que encheu de adeptos cada vez mais entusiasmados e esperançados num bom resultado. O FC Porto adoptou neste jogo uma atitude prudente e calculista, fazendo um jogo seguro, pela certa e sem correr riscos. Confirmou o seu favoritismo marcando dois golos, por Deco (44') e Ricardo Carvalho (71').

O jogo da segunda mão não foi propriamente um passeio. Os adeptos franceses, muito ruidosos prepararam um inferno na tentativa de intimidarem os nossos jogadores. No entanto, a estatura anímica da equipa esteve à altura dos acontecimentos e cedo deixou vincadas as suas intenções de querer continuar na prova. Maniche aos 6' fez funcionar o marcador. O Lyon, apesar de mais afastado do objectivo não desistiu e deu réplica igualando o marcador aos 14'.

Vítor Baía foi na primeira parte um obstáculo importante às investidas francesas, transmitindo confiança aos companheiros. Maniche, também ele com exibição inesquecível, voltou a marcar aos 46' lançando os Dragões para uma segunda parte de grande nível onde também Deco sobressaiu. Perto do fim (86') o Lyon obteve o empate (2-2) mas ficava garantida a passagem do FC Porto às meias-finais.

O Dragão vestiu-se de gala para receber o Deportivo da Corunha na 1ª mão. O clube galego apresentou-se muito táctico, com o trabalho de casa bem assimilado, amarrando as peças criativas do FC Porto que desta forma não conseguiu produzir o futebol que estava ao seu alcance.

Mesmo assim criou mais oportunidades de golo que os espanhóis e só a actuação desastrada do árbitro alemão Markus Merk impediu que os Dragões chegassem à vitória ao não assinalar uma grande penalidade evidente. O resultado foi uma igualdade a zero a deixar grandes interrogações para o jogo em Espanha.

























Equipa titular que defrontou o Deportivo La Coruña, no Dragão. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Couto, Nuno Valente, Ricardo Carvalho e Costinha; em baixo: Deco, Alenitchev, Maniche, Carlos Alberto, Paulo Ferreira e Benny McCarthy.

Na Corunha o ambiente era de festa. A edilidade associara-se ao clube da cidade engalanando o edifício com as cores azuis e brancas do Deportivo e o estádio do Riazor apresentou-se repleto e todo vestido dessas cores onde apenas os emblemas marcavam a diferença. Lindo!

O FC Porto fez questão de mostrar porque se encontrava nesta fase da prova, oferencendo uma exibição esplendorosa e muito personalizada onde o "ninja" Derlei foi um autêntico diabo à solta deixando os galegos de cabeça perdida. O árbitro italiano Pierluigi Colina fez neste jogo o que o seu companheiro alemão não fizera no primeiro jogo. Assinalou bem uma falta merecedora de penalidade máxima que Derlei não enjeitou aos 58', colocando o Porto na final. Chegar a Gelsenkirchen deixou de ser sonho para se transformar em realidade.

De pronúncia aparentemente complicada, o nome da cidade alemã adquiriu repentinamente uma sonoridade musical que os adeptos portistas aprenderam a entoar com a habitual capacidade muito portuguesa.

Gelsenkirchen ficou na memória portista como mais uma página gloriosa a juntar a tantas outras que compõem a riquíssima história do FC Porto.


26 de Maio de 2004 foi o dia da concretização do objectivo. A cidade alemã que já todos os portistas pronunciavam com toda a facilidade, foi o destino de uma grande falange de apoio, que por todos os meios ao dispor se deslocou numa romaria entusiasta e confiante, certa de que as finais, mais do que para serem disputadas são para vencer. O adversário era o Mónaco e o Estádio Arena Aufshalk o palco.



























Na imagem da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, Nuno Valente, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho e Costinha; em baixo: Pedro Mendes, Maniche, Carlos Alberto, Deco e Derlei.

O dinamarquês Kim Nielsen apitou para o início e o Mónaco assustou por duas ocasiões, ambas pelo rapidíssimo Giuly, nos primeiros três minutos do encontro. Vítor Baía, bem concentrado opôs-se com toda a determinação, saindo dos postes para chegar primeiro que o avançado monegasco, numa dessas jogadas. Estas duas intervenções terão sido marcantes para o desenrolar do jogo.

O Porto assentou o seu jogo e equilibrou a partida até que aos 39' se adiantou no marcador por Carlos Alberto num remate, em posição frontal e à meia volta, ao ângulo superior esquerdo da baliza de Roma. O Mónaco bem tentou a reacção mas o Porto dominava.

O segundo golo apareceu aos 71' por Deco. Alenitchev bem lançado na esquerda, aproveitando o desbalanceamento da defesa monegasca, entrou na área e no momento certo endossou a bola a Deco que junto à marca de grande penalidade, liberto de marcação colocou a bola fora do alcance do guarda-redes, obtendo um belo golo.

O adversário acusou muito este golo e quatro minutos após Alenitchev, outra vez solto do lado esquerdo, recebeu o passe de Derlei, invadiu com decisão a área e à saída de Roma fuzilou para o 3º golo. Foi o delírio, a vitória já não podia escapar. A multidão azul vibrava, cantava, festejava.

17 anos depois o FC Porto sagrava-se Bicampeão europeu, para gáudio dos portistas e desespero dos ressabiados.



























































(Clicar no quadro para ampliar)

No conjunto das 5 provas oficiais em que o FC Porto esteve envolvido, num total de 55 jogos,  a equipa técnica liderada por José Mourinho recorreu ao contributo de 33 atletas, aqui mencionados por ordem decrescente de utilização: Paulo Ferreira (52 jogos), Maniche (50), Ricardo Carvalho (48), Benny McCarthy (47), Vítor Baía (46), Costinha e Deco (45), Nuno Valente (42), Pedro Mendes (41), Jankauskas (38), Alenitchev e Jorge Costa (32), Pedro Emanuel (31), Derlei (30), Bosingwa (24), Carlos Alberto (22), Maciel e Ricardo Fernandes (21), Marco Ferreira (19), Ricardo Costa (17), Sérgio Conceição (12), Mário Silva (10), Nuno E. Santo (9), Bruno Moraes (8), Hugo Almeida (7), Secretário e César Peixoto (5), Tiago (4), Evaldo (2), André, Furtado, Bruno Vale e Pedro Ribeiro (1).

Fontes: Baú de Memórias, de Rui Anjos; Revista Dragões; Almanaque do FC Porto, de Rui Miguel Tovar.

1 comentário:

  1. Esta equipa, do plantel em apreço, foi das melhores de sempre, quanto a mim. E nessa época dava gosto ver a equipa jogar. Aliás épocas, contando com a anterior da vitória na nossa 1ª Taça UEFA...

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