sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

EQUIPAS DO PASSADO - SÉCULO XXI

ÉPOCA 2004/05

As vitórias internacionais conseguidas nas duas temporadas anteriores fizeram concentrar as inevitáveis atenções dos grandes emblemas europeus no plantel e também na equipa técnica, esta aliás, a primeira a ser contratada pelo Chelsea, ainda no decurso da parte final da última época. 

Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho (ambos para o Chelsea), Deco (Barcelona), Pedro Mendes (Tottenham) e Alenitchev (Spartak de Moscovo) foram os atletas que receberam luz verde para assinarem contratos milionários e fortalecerem os cofres do Clube.

Outros foram abordados e passaram o defeso com a cabeça noutras paragens a pensar em grandes melhorias financeiras, que não se concretizaram, provocando-lhes um sentimento de desconforto que acabou por marcar as suas performances durante toda a época.

A Sad começou por cometer um lapso ao contratar o desconhecido Luigi Del Neri para substituir Mourinho, que viria a ser dispensado antes ainda da época oficial começar. Para o seu lugar surgiu o espanhol Victor Fernandez.

Do plantel campeão europeu saíram os atletas já acima referidos. Para os seus lugares chegaram alguns nomes sonantes, Diego (ex-Santos), Quaresma (ex-Barcelona), Seitaridis (ex-Panathinaicos), Hélder Postiga (ex-Tottenham) e Luís Fabiano (ex-S. Paulo) a que se juntaram ainda Hugo Leal (ex-Paris S. Germain), Areias (ex-Beira-Mar), Raúl Meireles (Ex-Boavista), Pepe (ex-Marítimo), Hugo Almeida (ex-União de Leiria onde estava emprestado), para além de um "contentor" de brasileiros que foram chegando por alturas da reabertura do mercado, tornando a época num movimentado ritual de entradas e saídas.





















A época transformou-se rapidamente numa sucessão de experiências, de alterações, de avanços e recuos de que o futebol produzido sofreu as devidas consequências.

Salvaram-se desta confusão dois momentos muito felizes: A conquista da Supertaça Cândido de Oliveira e a vitória da Taça Intercontinental. Mas vamos por partes.

As competições oficiais abriram a 20 de Agosto de 2004, com a disputa da Supertaça Cândido de Oliveira, que pôs em confronto, como habitualmente, o Campeão Nacional (FC Porto) e o vencedor da Taça de Portugal (SL Benfica). 


A FPF escolheu o Estádio Cidade de Coimbra para palco da final. Fernandez, pelo FC Porto e Trapattoni, pelo Benfica estreavam-se a treinar em Portugal. A expectativa era enorme até porque os Dragões tinham sido surpreendidos por este mesmo adversário na final da Taça de Portugal no fecho da época anterior.


A vitória acabou por sorrir à equipa azul e branca pela sua melhor performance colectiva. O novo reforço Ricardo Quaresma foi o autor do golo, aos 56 minutos, num trabalho fabuloso, que deixou o defesa encarnado Argel com tonturas e o guardião Quim com enxaqueca. 

















Seguiu-se na semana seguinte a disputa da Supertaça da Uefa, mais uma vez jogada no Mónaco. O adversário veio de Espanha, com as insígnias de vencedor da Taça Uefa, o Valência.

Foi uma final muito disputada onde foi visível o melhor entrosamento do adversário, em fase de preparação muito mais adiantada. Faltou por isso ao FC Porto, uma melhor circulação de bola, maior profundidade ofensiva e melhor aproveitamento das oportunidades. A derrota averbada, por 2-1, castigou precisamente essas lacunas. Os azuis e brancos estiveram a perder por duas bolas e Quaresma ainda conseguiu reduzir, aos 78 minutos.


O Campeonato nacional arrancou só em 22 de Setembro de 2004, em consequência do Euro/2004, disputado em Portugal. 


O FC Porto, fruto das vicissitudes que implicaram a renovação do plantel, com mudanças significativas, que passaram pela equipa técnica e por um conjunto de jogadores nucleares, apesar de aparentemente se ter reforçado relativamente bem, nunca conseguiu estabilizar o seu futebol. Ainda assim lutou pelo título até ao fim, vencendo as dificuldades de ter recorrido a três treinadores (Del Neri, na pré-época, Victor Fernandez até à 19ª jornada e finalmente José Couceiro) e de ter utilizado um número incrivelmente exagerado de 32 jogadores!

Foi uma equipa bipolar que tão depressa conseguia exibições e resultados prometedoras, como logo a seguir caía numa mediocridade surpreendente. Contra os principais rivais, venceu na Luz (0-1) e empatou no Dragão (1-1),derrotou o Sporting (3-0), no Dragão e perdeu em Alvalade (2-0)























Equipa titular que recebeu o Benfica, na 23ª jornada. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, Nuno Valente, Hélder Postiga, Ricardo Costa e Costinha; Em baixo: Ibson, Maniche, Diego, Benny McCarthy e Seitaridis.

Contudo, sofreu derrotas em casa que não estavam nas previsões (Boavista (0-1), Beira-Mar (0-1), Braga (1-3, que ditou o despedimento de Fernandez) e Nacional (0-4), bem como uma série de empates comprometedores.


















Equipa titular que à 11ª jornada foi derrotada no Dragão, frente ao Boavista: Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, Areias, Benny McCarthy, Pedro Emanuel e Costinha; Em baixo: Derlei, Maniche, Quaresma, Seitaridis e Bosingwa.

No final, o FC Porto concluiu o campeonato na 2ª posição, com o registo de 34 jogos, 17 vitórias, 11 empates e 6 derrotas, 39 golos marcados e 26 sofridos, somando 62 pontos, menos 3 que o Benfica e mais 1 que o Sporting.

Na Taça de Portugal foi eliminado à primeira, em Guimarães. Num jogo em que os minhotos enveredaram pela excessiva dureza, com a complacência do árbitro João Ferreira, os azuis e brancos não resistiram e foram derrotados por 2-1. A nota dominante deste jogo foi a bárbara agressão de Flávio Meireles a Costinha, que deixou o trinco portista inanimado e conduzido ao hospital. O jogador vimaranense nem cartão amarelo viu!

Na Liga dos Campeões, o FC Porto teve a companhia do CSKA de Moscovo, do Chelsea e do Paris SG, no grupo H.

A campanha começou no Dragão, com a recepção ao ultra defensivo CSKA de Moscovo, que tudo fez para não perder e conseguiu. Diga-se em abono da verdade que a equipa portista também não teve engenho nem arte para ultrapassar o «autocarro» moscovita, daí o nulo no resultado final.





















Equipa titular que recebeu o CSKA. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, Pepe, Areias, Hélder Postiga e Costinha; Em baixo: Quaresma, Diego, Carlos Alberto, Maniche e Seitaridis.


Seguiu-se a deslocação ao Stamford Bridge, para defrontar o Chelsea de Mourinho. Derrota por 3-1, resultado enganador, onde o FC Porto acabou por pagar alguns desacertos defensivos nos momentos cruciais.

Na 3ª jornada, as coisas não foram melhores. Derrota por 2-0 no Parque dos Princípes, frente ao Paris SG que obteve os golos de rajada (29' e 30'), terminando com o domínio portista que até aí se verificava. 

A equipa francesa foi o adversário da jornada seguinte e deslocou-se ao Dragão com a intenção clara de não sofrer golos. Optou por uma estratégia evidente de acalmar o jogo, provocando constantes paragens para quebrar o ritmo, com a complacência de uma arbitragem desastrada. O resultado final foi obviamente um empate sem golos, que deixou os Dragões em maus lençóis, relativamente ao seu apuramento para a fase seguinte.

Não havia mais margem de erros e por isso o FC Porto deslocou-se a Moscovo ciente das dificuldades, mas determinado a mudar a tendência dos resultados até aí obtidos. O cenário não se apresentava nada favorável. Temperatura negativa, relvado gelado e em mau estado eram condições quase desumanas para a prática do futebol. Mas, os Dragões souberam superar todas essas contrariedades e impor a sua maior capacidade técnica, construindo uma exibição notável, coroada por um golo fantástico de Benni McCarthy, que coloriu o resultado final, numa vitória merecida e importante.

Para o Estádio do Dragão ficou reservado o jogo decisivo, marcado pela expectativa de como iria ser a recepção a Mourinho, depois do recente e quiçá, extemporâneo abandono, durante o defeso e ainda pela obrigação de ganhar para que o FC Porto pudesse continuar na prova.

Deu tudo certo. Mourinho foi bem recebido e a equipa portista conseguiu a vitória e consequente qualificação para os oitavos-de-final. O jogo começou até mal, pois o Chelsea marcou primeiro, numa jogada estranha e algo esquisita.  Com uma segunda parte arrasadora, os jogadores portistas vulgarizaram o adversário e, primeiro Diego (61') e depois McCarthy (86'), deram a volta ao marcador e iluminaram o sonho.













Equipa titular que garantiu no Dragão a passagem aos oitavos-de-final da Champions League. Da esquerda para a direita, em cima: Benni McCarthy, Nuno E. Santo, Jorge Costa, Areias, Pedro Emanuel e Costinha; Em baixo: Luís Fabiano, Derlei, Diego, Maniche e Seitaridis.


Já com José Couceiro ao comando da equipa, o FC Porto recebeu o Inter de Milão, numa altura em que o ambiente no seio da equipa não era o melhor. Os maus resultados internos tinham provocado a mudança do comando técnico e a aposta noutras opções. Ainda assim, a equipa portista mostrou-se personalizada e mostrou o seu renascimento. O resultado foi algo comprometedor, pois o empate (1-1) não deixava grandes esperanças.





















Equipa titular que recebeu no Dragão, o Inter de Milão. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Nuno Valente, Ricardo Costa, Pedro Emanuel, Benni McCarthy e Costinha; Em baixo: Raúl Meireles, Maniche, Quaresma, Seitaridis e Bosingwa.


Em Milão não se esperava tarefa fácil. E não foi. A equipa entrou nervosa e sofreu um golo logo aos seis minutos, que a deixou ainda mais atarantada. Aos poucos foi-se recompondo mas acabou por sofrer novo golo, aos 63 minutos. A eliminatória parecia mais que decidida. Foi então que os Dragões acordaram e, já mais serenos, conseguiram um golo aos 68 minutos. Sentiram que com mais um golo poderiam reverter a tendência da eliminatória. José Couceiro arriscou tudo, mas mais uma falha defensiva deitou tudo a perder. O resultado (3-1) acabou por ser um resultado pesado e imerecido.























Equipa titular em Milão. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, Nuno Valente, Ricardo Costa, Pedro Emanuel e Costinha; Em baixo: Cláudio Pitbull, Maniche, Diego, Seitaridis e Benni McCarthy.

A Taça Intercontinental foi disputada em 12 de Dezembro de 2004, no Estádio Internacional de Yokohama no Japão.

Foi uma vitória sofrida frente ao Once Caldas da Colômbia, que se revelou um adversário complicado, face à enorme preocupação defensiva mas sempre à espreita de uma falha portista para chegar ao triunfo.


A verdade é que os colombianos não demonstrarem em momento nenhum capacidades para lutar pela vitória, deixando evidente a intenção de levar o jogo para a lotaria das grandes penalidades. Tal desiderato foi conseguido à custa de muita sorte e principalmente pelo mau desempenho da equipa de arbitragem.


Quatro bolas nos ferros da baliza de Henao e dois golos limpos anulados a McCarthy contribuíram para um resultado sem golos e injusto até ao minuto 120.

Na foto a equipa que iniciou o jogo no Japão. Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Jorge Costa, Ricardo Costa, Pedro Emanuel, Seitaridis e Costinha; Em baixo: Maniche, Diego, Luis Fabiano, Derlei e McCarthy.

Nas grandes penalidades o FC Porto foi mais forte e conquistou com o maior merecimento mais uma importante competição internacional.

Os «penalties»: 0-1 Vanegas, 1-1 Diego, 1-2 Alcazar, 2-2 Carlos Alberto, 2-3 Viafara, 3-3 Quaresma, 3-4 De Nigris, 3-4 Maniche atira à barra, 3-4 Fabbro acerta no poste, 4-4 McCarthy, 4-5 Velasquez, 5-5 Costinha, 5-6 Diaz, 6-6 Jorge Costa, 6-7 Cataño, 7-7 Ricardo Costa, 7-7 Garcia atira por cima da baliza, 8-7 Pedro Emanuel que explode de alegria.
















































(Clicar no quadro para ampliar)

Ao longo de uma maratona de 46 jogos, relativos à disputa de 6 competições, em que o FC Porto esteve envolvido, as equipas técnicas utilizaram 32 atletas, aqui referenciados por ordem decrescente dessa participação: Quaresma (44 jogos), Costinha (41), Vítor Baía (40), Diego (39), McCarthy (35), Seitaridis e Hélder Postiga (34), Ricardo Costa (33), Bosingwa (32), Jorge Costa e Pedro Emanuel (31), Maniche (30), Luís Fabiano (27), Pepe (22), Derlei (20), Carlos Alberto (17), Ibson (15), Raul Meireles (14), Areias e Nuno Valente (12), Hugo Leal (11), César Peixoto e Leandro (10), Nuno E. Santo e Léo Lima (7), Ivanildo, Leandro Bomfim e Cláudio Pitbull (6), Hugo Almeida (5), Paulo Machado (4), Maciel (2) e Bruno Gama (1).

Fontes: Baú de Memórias, de Rui Anjos; Revista Dragões; Almanaque do FC Porto, de Rui Miguel Tovar.

1 comentário:

  1. Mais uma excelente crónica que retrata muito bem como foi essa época 2004/05.

    É sempre um prazer visitar o seu blog, que considero um óptimo espaço para aprender mais sobre a História do FC Porto mas também para sentir o momento actual do clube.

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