ÉPOCA 1989/90
Artur Jorge pressentiu que estava na hora de dotar a equipa com mais competitividade. Para tal, a estratégia passava pela renovação do plantel, dispensando um conjunto de atletas que tinham já esgotado os seus índices de ambição e de capacidades física, técnica e táctica, substituindo-os por gente nova, porventura desconhecidos, mas com muita vontade de trabalhar e sair do anonimato.
Para além do internacional belga Demol, o plantel recebeu Kiki e Toni (ex-Braga), Tavares e Cândido (ex-Infesta), Abílio (ex-Leixões), Pingo (ex-Espinho), Nascimento (ex-Guimarães), Marito (ex-Académica), Morato (ex-Sporting), Caetano (ex-Penafiel) e ainda os jovens atletas que se encontravam emprestados, Silvino (Espinho) e Jorge Couto (Famalicão). Entre outros, Fernando Gomes foi um dos dispensados, acabando por assinar pelo Sporting.
Plantel inicial 1989/90 - da esquerda para a direita, em cima: Nascimento, Geraldão, Semedo, Silvino, Jorge Couto, Vítor Baía, Zé Carlos, André, Paulo Pereira e José Luís (enfermeiro); Ao meio: Diamantino (massagista), Agostinho (roupeiro), Rui Águas, Demol, Hernâni Gonçalves (adjunto), Reinaldo Teles (director), Artur Jorge (treinador), Murça, Octávio (adjuntos), Toni, Pingo, Dr. Domingos Gomes, Dr. Jorge Silva (médicos) e Rodolfo Moura (massagista); Em baixo: Ricardo (roupeiro), Kiki, Marito, Morato, Abílio, Caetano, Bandeirinha, João Pinto, Domingos, Jaime Magalhães, Barriga, Madjer e F.Brandão (roupeiro).
A pré-época não tinha sido nada animadora. A equipa tardava a encontrar-se e somava uma série de sete derrotas, instalando na massa adepta alguma desconfiança, para gáudio da alienada CS que aproveitou o momento para enfatizar a habitual atribuição do favoritismo ao clube do regime.
Equipa inicial que defrontou e venceu o Locomotiv de Plodvid - Da esquerda para a direita, em cima: Rui Águas, Jaime Magalhães, Morato, Semedo, Geraldão e Mlynarczyk; Em baixo: André, Domingos, Madjer, Kiki e Abílio.
Pôr a equipa na rota do título nacional era o objectivo principal, caminhada que foi programada com muita minúcia e com a noção exacta das dificuldades a ultrapassar. Sem partir derrotado, mas também sem embandeirar em arco, o FC Porto começou por receber o Nacional da Madeira, teste complicado que a equipa soube superar.
Equipa titular da 1ª Jornada do Campeonato Nacional, contra o Nacional - Da esquerda para a direita: Vítor Baía, Demol, Rui Águas, Jaime Magalhães, Zé Carlos, Semedo e João Pinto; Em baixo: Bandeirinha, André, Madjer e Paulo Pereira.
Ao fim de quatro jornadas o FC Porto somava por vitórias os jogos disputados enquanto os «campeões antecipados» deixavam já um ponto em Guimarães.
Mas a quinta jornada traria a primeira e única derrota da primeira volta, em Alvalade, num lance infeliz de André, que introduziu a bola na própria baliza. Logo de seguida outro teste decisivo: a visita do Benfica, do grande Benfica, segundo as vozes da CS que não se cansava de tecer loas à equipa do regime, continuando a apontá-la com a principal candidata ao título. O FC Porto respondeu com a alma de Dragão, vencendo por 1-0, infligindo danos na arrogância dos petulantes «campeões antecipados».
O FC Porto manteve-se 25 jornadas sem perder, alicerçando a sua candidatura ao título, ainda que sem evitar alguns sobressaltos pelo caminho, sobretudo com empates inesperados e algo comprometedores, que apesar de tudo não abalaram a confiança da equipa.
Chegados à 23ª jornada, surgiu o desafio do ano. Benfica e FC Porto encontravam-se no palco da Luz, num jogo decisivo cujo resultado poderia determinar a sorte do campeonato. O empate final, sem golos, confirmou a candidatura portista e a desilusão benfiquista.
Seguiram-se sete vitórias consecutivas que consolidaram a liderança isolada e mais destacada, que permitiu sofrer a segunda derrota, desta vez no Restelo, sem consequências para o desfecho final, pois apenas adiou uma jornada o inevitável. Assim, à 32ª jornada, o FC Porto obteve a consagração do título nacional, vencendo nas Antas o Vitória de Setúbal, por 1-0, quando até o empate já seria suficiente.
Festa do golo e do título - Da esquerda para a direita: Jaime Magalhães, Jorge Couto, Geraldão, Paulo Pereira, André, Madjer (8), Demol, João Pinto e Rui Águas.
As duas últimas jornadas serviram apenas para cumprir calendário. Os Dragões concluíram a prova com o registo de 34 jogos, 27 vitórias, 5 empates, 2 derrotas, 72 golos marcados, 16 sofridos (melhor defesa) e com 59 pontos, mais 4 que o Benfica e mais 13 que o Sporting.
Na Taça de Portugal o FC Porto começou por afastar o Infesta e o Paredes, equipas da II e III Divisões, respectivamente, sem grandes problemas, conforme atestam os resultados, 4-1 e 5-0.
A surpresa aconteceu na 5ª eliminatória, num jogo em que o FC Porto tinha tudo para prosseguir em prova. Recebia nas Antas o Tirsense, a quem havia goleado por 7-0, para o Campeonato, mas numa tarde em que a equipa, embora tivesse produzido um futebol razoável, principalmente na primeira parte, acabou por perder a serenidade, acumulando erros defensivos que lhe saíram caros. Derrota por 0-2 e eliminados da prova por um adversário abissalmente inferior.
Na Taça Uefa o sorteio começou por ser generoso, colocando no caminho do FC Porto a acessível equipa romena do Flacara Moreni, que os azuis e brancos eliminaram com duas vitórias, 2-0, nas Antas e 1-2, em Moreni.
Equipa titular, nas Antas, frente ao Flacara Moreni - Da esquerda para a direita, em cima: João Pinto, Demol, Jaime Magalhães, Semedo, Zé Carlos e Vítor Baía; Em baixo: Rui Águas, Madjer, André, Bandeirinha e Branco.
Seguiu-se a formação espanhola do Valência que deu muito trabalho ao conjunto azul e branco. Numa eliminatória muito equilibrada, o FC Porto foi mais realizador, conseguindo um ligeiro ascendente na diferença de golos (5-4), resultantes da vitória nas Antas, por 3-1 e da derrota no Luís Casanova, por 3-2.
Equipa titular que nas Antas derrotou o Valência, por 3-1 - Da esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Zé Carlos, Semedo, Jaime Magalhães, Branco e João Pinto; Em baixo: Demol, Madjer, Bandeirinha, André e Rui Águas.
Na eliminatória seguinte as dificuldades avolumaram-se, ou não tivesse saído no sorteio os alemães do Hamburgo. A derrota portista na Alemanha, por 1-0, depois de uma exibição segura e sólida, fazia acalentar as esperanças da reviravolta nas Antas.
A verdade é que a turma portuguesa mostrou-se claramente superior, criou uma infinidade de oportunidades de golo, marcou dois e sofreu 1, construindo um resultado insuficiente para passar à fase seguinte. O jogo ficou marcado pela incompetência do árbitro suíço Rothiberger, que sonegou uma claríssima grande penalidade, cometida aos olhos de todos, por um defesa alemão que, em cima da linha de golo, meteu deliberadamente a mão à bola, substituindo-se ao seu guarda-redes, evitando o terceiro golo portista.
Equipa titular que defrontou o Hamburgo, nas Antas - Sa esquerda para a direita, em cima: Vítor Baía, Demol, Semedo, Nascimento, Branco e João Pinto; Em baixo: Geraldão, Bandeirinha, André, Jorge Couto e Madjer.
(Clicar no quadro para ampliar)
Artur Jorge utilizou 26 atletas, nas três provas em que o FC Porto esteve envolvido, num total de 43 jogos, aqui referenciados por ordem decrescente da sua utilização: Vítor Baía (43 jogos), Semedo (41), André, Demol, João Pinto e Rui Águas (39), Branco (34), Bandeirinha, Geraldão, Madjer e Jaime Magalhães (33), Jorge Couto (31), Paulo Pereira (23), Domingos (21), Kiki (15), Nascimento (14), Zé Carlos (9), Marito (8), Pingo (5), Abílio (4), Barriga e Edu (3), Caetano e Morato (2), Silvino e Toni (1).
Fontes: Almanaque do FC Porto, de Rui Miguel Tovar; Revista Dragões.
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