terça-feira, 13 de março de 2012

SEM ESTOFO DE CAMPEÃO!

Muita tinta correu pelo facto da Liga não ter imposto as 72 horas de intervalo, tempo considerado indispensável para a recuperação dos atletas, permitido que o último clássico se disputasse antecipadamente, depois dos jogos das diversas selecções. 
O treinador do FC Porto, Vítor Pereira, foi dos que mais se inconformou com a situação. Afirmou que tal não defendia o futebol. Por isso, não pode preparar o jogo convenientemente. Os jogadores internacionais foram-lhe chegando a conta-gotas, com James Rodríguez a chegar na madrugada do dia do jogo.

Por tudo isto esperava-se um FC Porto fragilizado, talvez algo incapacitado de dar o seu melhor. A verdade é que a equipa entrou forte, personalizada e sem complexos. Fez os primeiros vinte minutos excepcionais de raça e de classe, não permitindo qualquer veleidade ao seu adversário. Já no segundo tempo, a perder 2-1, foi capaz de ir buscar as forças e a capacidade técnica necessárias para assegurar uma importante vitória que lhe abriu os horizontes para a renovação do título.
Na semana seguinte, Vítor Pereira, livre dessas contrariedades, teve uma semana normal de trabalho com todos os jogadores à sua disposição (excluindo os lesionados habituais), que lhe permitiu preparar o jogo com a  Académica na maior das tranquilidades.

Dir-se-ia que a equipa dispôs de todas as condições para encarar o jogo como uma final, poder entrar com tudo (atitude, raça, ambição e classe) e realizar uma partida perfeita, agradável e demonstrativa de uma ambição pela renovação do título cada vez mais consolidada.

Puro engano. A equipa apareceu inexplicavelmente amorfa, desconcentrada, complicativa, desinspirada e nada ambiciosa. Viu-se  e desejou-se para conseguir o golo da igualdade, marcado já em tempo de descontos, deixando pairar a ideia de não possuir estofo de campeão.
Como explicar estas duas situações, com resultados surpreendentes? Na primeira, falta de tempo de preparação, stress, desgaste físico e psicológico, para defrontar fora de casa, um rival candidato ao título; na segunda, todo o tempo do mundo, sem stress, tempo de recuperação mais que suficiente, para defrontar em casa o 10º classificado.

Que algo não vai bem no reino do Dragão, já todos sabíamos. É notório desde que a época começou, não sendo alheias as prematuras e sucessivas eliminações na Champions League, na Taça de Portugal e na Liga Europa, em circunstâncias no mínimo escandalosas. 

O que emperra a «máquina»? O que a impede de actuar com consistência? Afinal, a matéria-prima é de qualidade. Em relação à época transacta as diferenças não são abissais.

De jogadores desmotivados, com a cabeça noutras paragens, toldadas por influências dos seus empresários, sempre à espreita de mais-valias, passando pelo deficiente planeamento da época, até a alguma desorientação técnica, podem ser algumas das respostas possíveis.

Mas a falta de uma voz verdadeiramente capaz de insuflar a chama, a ambição e a confiança, necessárias para fazer os jogadores acreditarem no sucesso, uma voz capaz de se fazer ouvir durante o jogo, capaz de incentivar, de responsabilizar, de exigir, de  incutir seriedade,  coesão, solidariedade, espírito de grupo, parece ser o principal obstáculo. Sem isto lá se vai o estofo do campeão! Sem ele, só um milagre para garantir esse desiderato.

2 comentários:

  1. Excelente, caro amigo. Está aqui tudo e corroboro.

    Deixe-me salientar o contraste entre jogo no "salão de festas" e jogo em nossa casa. É elucidativo... Muito bem!

    Nem digo mais nada... para não estragar.

    Abraço AZUL FORTE.

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  2. A diferença chama-se Benfica, Luz, estádio cheio, jogo transmitido para todo o mundo, olheiros que nunca mais acabam, etc. Para esses jogos as "vedetas" têm sempre motivação, para a Académica, Setúbal, Leiria, Feirense, já é mais complicado.
    A única coisa que critico ao treinador é a passividade durante toda a 1ª parte. Eu, aos 20, o mais tardar aos 25 minutos, tinha mexido e quem saía era o que todos queriam a jogar, o Sapunaru, que não deu uma para a caixa.

    Se um grupo pago a peso de ouro, depois de ganhar na Luz e ficar isolado no campeonato, precisa de ser particularmente espicaçado para ganhar à Académica, então eu não percebo na da de bola. Depois, não acredito que o treinador não tenha chamado a atenção dos jogadores para os relaxamentos, para o respeito devido ao adversário que, curiosamente, tinha-nos eliminado da Taça. Será que nem esse exemplo fez as "vedetas" terem mais um bocadinho de brio?

    Abraço

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