sexta-feira, 28 de março de 2014

EQUIPAS DO PASSADO - SÉCULO XXI

ÉPOCA 2007/2008

A segunda época de Jesualdo Ferreira foi, em termos de Campeonato Nacional, um autêntico passeio de classe da equipa do FC Porto, já que o nível competitivo apresentado cedo mostrou não ter concorrência capaz de ofuscar o brilho dos bicampeões nacionais.

Houve alguns ajustamentos ao plantel, muito para além das necessárias, em função das vendas milionárias de Pepe para o Real Madrid e Anderson para o Manchester United.

Lino (ex-Académica), Stepanov (ex-Trabzonspor), Bolatti (ex-Belgrano, da Argentina), Farías (ex-River Plate, da Argentina), Leandro Lima (ex-São Caetano, do Brasil), Kazmierczak (ex-Boavista), Mariano Gonzalez (ex-Inter de Milão) e Edgar (ex-Beira-Mar) a quem se juntaram os promovidos Ventura, Castro e Rui Pedro, mais os regressados Nuno e Tarik Sektioui, constituíram os reforços do plantel.



















A época começou com uma derrota frente ao Sporting, na Supertaça Cândido de Oliveira disputada mais uma vez em Leiria. O resultado foi de 1-0 para os leões, no que constituiu uma grande injustiça, ainda que a exibição portista não tenha sido das melhores, mesmo assim superior à do adversário. Três remates nos ferros e um penalty sonegado pelo árbitro foram o corolário desse revés.

Jesualdo Ferreira já com todo o plantel à disposição apostou numa formação base, formada por jogadores do ano anterior que lhe garantiu maior entrosamento e coesão. Conseguiu um arranque de campeonato espectacular, com oito vitórias consecutivas. No final da 8ª jornada o Benfica e o Sporting já estavam a 8 e a 9 pontos de distância, respectivamente.

À 9ª jornada o Belenenses quebrou a senda de vitórias, impondo um empate no Dragão por 1-1, igualdade que se repetiu na jornada seguinte na Reboleira, contra o Estrela da Amadora, por 2-2, depois dos Dragões estarem a ganhar por 0-2. O desacerto de Stepanov nesse jogo custar-lhe-ía a titularidade.

Na 12ª jornada o FC Porto deslocar-se-ia à Luz para defrontar o Benfica com "apenas" 4 pontos de vantagem.

O folclore habitual dos "pasquins amestrados" durante toda a semana que antecedeu o jogo, enfatizando todos os argumentos que pudessem contribuir para elevar a moral da equipa da capital do império (possibilidade de ficarem a 1 ponto do comando, a "grande" exibição frente ao Milão, as cinco vitórias consecutivas, os trinta e tal jogos sem perder para o campeonato, enfim um somatório de coisas boas para alimentar o ego vermelhusco).

Alheio a estas jogadas de bastidores, o FC Porto apresentou-se na Luz com todas as suas credenciais que o definiam como um campeão de corpo inteiro: Personalidade, coesão e classe, sem necessidade de colinho ou de palmadinhas nas costas.

A velocidade de Bosingwa, a robustez de Bruno Alves, a eficácia de Paulo Assunção, a clarividência de Lucho Gonzalez, a sagacidade de Lisandro Lopez e a magia de Quaresma reduziram os campeões da treta à sua dimensão real. 0-1 foi o resultado final com um golo soberbo de Quaresma, obtido com a sua famosa trivela, depois de trocar os olhos ao defesa David Luiz. A qualidade do futebol portista justificava resultado mais robusto que, umas vezes por infelicidade outras por influência do árbitro, não foi concretizado.

A Comunicação Social sofrera mais um rude golpe na sua estratégia e ao invés de um ponto, viram o clube do coração ficar a sete!

Apesar da superioridade patenteada, o FC Porto não foi capaz de evitar alguns desaires, provavelmente ditados por alguma saturação e desgaste, em função das várias frentes em que se encontrava envolvido e ainda pela fraca resposta dos reforços que iam sendo experimentados por Jesualdo Ferreira. As derrotas com o Nacional da Madeira (14ª e 29ª jornadas) e com o Sporting (17ª jornada) foram os factos mais negros duma época brilhante.

O título anunciado foi matematicamente concretizado à 25ª jornada, em 5 de Abril de 2007, no Estádio do Dragão, frente ao Estrela da Amadora.

Perante 50.138 espectadores, os jogadores portistas encararam este jogo como uma festa e proporcionaram, em largos períodos do encontro, um futebol avassalador, triturante, belo e vistoso. Foi um Porto de gala que se apresentou no palco dos sonhos, correspondendo ao entusiasmo dos seus seguidores que não se cansaram de incentivar com cânticos e muita alegria.

Seis golos foram quantos se marcaram nesta partida, todos na baliza do Estrela da Amadora que nada podia fazer para contrariar a festa. Lucho Gonzalez (8'), Taril Sektioui (11'), Quaresma (64'), Maurício (70' na própria baliza), Bruno Alves (77') e Lisandro Lopez (87'), foram os autores dessa goleada.

Terminado o jogo seguiu-se uma linda festa, com os jogadores a serem chamados um a um para o centro do terreno para festejarem 0 23º título do FC Porto, que se prolongou na Alameda e nas ruas da cidade.






































As jornadas seguintes foram para cumprir calendário, quase sempre em clima de festa, com as vitórias, em Setúbal frente ao Vitória local (1-2), no Dragão frente ao Benfica ("só" 2-0), em Guimarães frente ao Vitória (0-5), a derrota com o Nacional, no Dragão (0-3) e a vitória frente ao Naval (0-2), na Figueira da Foz.

Acabou por ser um campeonato praticamente sem dificuldades em que a concorrência terminou bem distante, Sporting em 2º a 20 pontos e Benfica em 4º a 23 pontos. O FC Porto registou, em 30 jogos, 24 vitórias, 3 empates, 3 derrotas, marcou 60 golos, sofreu 13 e somou 75 pontos

Os portistas chegaram ao fim com o melhor ataque, a melhor defesa e o melhor marcador do campeonato (Lisandro Lopez, 24 golos marcados).

Aos 75 pontos conquistados no terreno de jogo, a Comissão Disciplinar da Liga entendeu "surripiar" 6, depois de uma ardilosa decisão no âmbito do Apito Final, com os quais o FC Porto não se conformou recorrendo para os Tribunais Civis, na pessoa do seu presidente Pinto da Costa.

Os vinte pontos de vantagem relativamente ao segundo classificado ficam na história como a maior jamais alcançada por um campeão em Portugal.

Na Taça de Portugal a equipa portista chegou à final, depois de eliminar sucessivamente o Desp. de Chaves, o Desp. das Aves, o Sertanense, o Gil Vicente e o V. Setúbal.

No Jamor, o adversário foi o Sporting que voltou a derrotar a equipa portista, tal como na final da Supertaça. A equipa portista denotou alguma desconcentração e dificuldades para ligar o jogo, mas foi castigado particularmente pela arbitragem de Olegário Benquerença. Dessa vez, tal como de outras em que são claramente beneficiados, os calimeros não choraram.

Nesta temporada estreou-se uma nova competição, a Taça da Liga, que o FC Porto encarou com demasiada ligeireza. Jesualdo recorreu a uma formação composta por elementos menos utilizados e acabou por pagar a factura, mesmo contra um adversário da II Divisão. A prova era a eliminar em apenas 1 jogo e em Fátima, o clube local levou o jogo para os penaltis e foi mais competente na concretização dos mesmos.

Em termos internacionais o FC Porto foi agrupado na companhia de Liverpool, Besiktas e O. Marselha, no Grupo A, da Liga dos Campeões. O desempenho portista superou as expectativas pois conseguiu classificar-se em primeiro do grupo, consentindo apenas uma derrota.

A campanha começou no Dragão, frente ao Liverpool. Os britânicos actuaram com todas as cautelas e sem arriscar demasiado. O FC Porto marcou cedo mas teve sempre grandes dificuldades para contrariar o bloco baixo do adversário. Numa «abébia» defensiva permitiu o golo do empate, resultado com que terminou o encontro.

O destino seguinte foi Istambul. Jogo de duas faces já que durante a primeira parte os Dragões tiveram de suportar a maior agressividade do Besiktas. No segundo tempo as coisas foram bem diferentes. Os azuis e brancos entraram mais ousados e ambiciosos e acabaram mesmo por ser felizes, concretizando o golo da vitória em cima do minuto 90.

A terceira jornada foi jogada no Vélodrome de Marselha. Entrada portista muito forte, com classe, raça, ambição e também brilhantismo. Foram 20 minutos de futebol fabuloso a que só faltou o golo, apesar das várias oportunidades criadas. Depois e até ao intervalo a equipa portista abrandou o ritmo mas foi sempre superior. No segundo tempo foi ainda o FC Porto a entrar melhor e a criar novas oportunidades, porém, contra a corrente do jogo o Marselha adiantou-se no marcador. O Porto não desistiu e acabou por empatar nove minutos depois, resultado com que acabou a partida.

O FC Porto recebeu o O. Marselha, na jornada seguinte. Foi tudo ao contrário. Os franceses entraram melhor no jogo, dominou durante toda a primeira parte embora sem construir grandes ocasiões para marcar. Foi mesmo a equipa azul e branca a chegar, nesse período, ao golo, um tanto contra a corrente do jogo, num lance genial de Tarik Sektioui, que arrancando de meio campo, passou por um, dois, três adversários e já dentro da área, num gesto técnico fabuloso, tirou o guarda-redes do seu caminho, rematando de seguida para a baliza deserta. No segundo tempo voltou o Marselha a dominar, inconformado com o resultado. Igualou no segundo minuto. Jesualdo mexeu e fez sair um médio para meter um avançado, numa clara demonstração de vontade de ganhar o jogo. A verdade é que desde então os Dragões foram superiores e chegaram mesmo ao golo da vitória.





















Na foto a equipa titular que derrotou o O. Marselha, no Dragão. Da esquerda para a direita, em cima: Helton, Bosingwa, Tarik Sektioui, Fucile, Bruno Alves e Stepanov; Em baixo: Quaresma, Lisandro Lopez, Raul Meireles, Marek Cech e Paulo Assunção.

Foi no comando isolado do Grupo A que o FC Porto se deslocou a Anfield Road, para defrontar o Liverpool. Lamentavelmente foi uma visita sem brilho nem glória. Performance desastrada em contraste com o ritmo diabólico imposto pelos ingleses que necessitavam dos 3 pontos, como de pão para a boca. O resultado final foi uma goleada por 4-1, num jogo em que só as camisolas do clube estiveram presentes. Apesar da pesada derrota o FC Porto conseguiu manter a liderança.

Na última jornada, no Dragão, todos os cenários eram ainda possíveis. Os Dragões podiam acabar em primeiros do Grupo como, no pior dos cenários, em último, tal o equilíbrio pontual. Por isso, o jogo foi decisivo. A equipa entrou consciente das responsabilidades e soube em todos os momentos actuar com rigor táctico, ser pressionante e sobretudo cerebral, emprestando à sua exibição a classe dos grandes campeões. O resultado foi uma vitória natural e merecida, por 2-0, garantindo a liderança do Grupo e a qualificação para os Oitavos-de-final da prova.
























Equipa titular que venceu o Besiktas, no Dragão, na última jornada da fase de Grupos. Da esquerda para a direita, em cima: Helton, Bosingwa, Lisandro Lopez, Bruno Alves, Tarik Sektioui e Pedro Emanuel; em baixo: Quaresma, Raul Meireles, Lucho Gonzalez, Fucile e Paulo Assunção.

Quis o destino que o FC Porto voltasse a pisar o relvado do Aufschalke, em Gelsenkirchen, onde já fora feliz. Contudo desta vez o adversário era a equipa da casa, o Schalke 04. Muitas dificuldades para travar o ímpeto inicial dos alemães que marcou logo aos 4 minutos.

Só na segunda parte os azuis e brancos se conseguiram libertar do espartilho germânico e perto do fim Lisandro Lopez dispôs da única oportunidade para bater Neuer, mas não foi feliz. Derrota pela margem mínima a deixar adivinhar para o Dragão uma grande noite de gala.

Como se esperava, o jogo da segunda mão foi encarado com toda a responsabilidade e ambição. O FC Porto entrou para ganhar e tomou desde logo as rédeas do jogo. Criou boas oportunidades de golo, numa galopada insistente e intensa para marcar, mas encontrou pela frente um guardião numa noite para recordar. O homem defendia tudo!

O segundo tempo não foi muito diferente. Porto no ataque à procura do golo e Neuer impenetrável. Para piorar a situação, Bosingwa teve de abandonar por lesão e Fucile foi expulso, numa decisão polémica do árbitro. Os jogadores portistas não desistiram e viram a sua crença ser premiada aos 86 minutos. Lisandro marcou e pôs o Dragão em delírio. O jogo foi para prolongamento e depois para a taluda dos penaltis. Aí, a frieza alemã e a inspiração de Neuer foram decisivos. O FC Porto ficou assim pelo caminho.


































(Clicar no quadro para ampliar)

Nos 46 jogos em que o FC Porto esteve envolvido, relativos a 5 provas, a equipa técnica liderada por Jesualdo Ferreira utilizou 29 atletas, aqui referenciados por ordem decrescente dessa utilização: Lisandro Lopez (41 jogos), Raul Meireles e Lucho Gonzalez (40), Quaresma e Paulo Assunção (39), Bruno Alves (38), Mariano Gonzalez (35), Helton, Fucile e Tarik Sektioui (34), Bosingwa (33), Pedro Emanuel (27), Marek Cech (25), Ernest Farías (24), Adriano (22), Bolatti (20), Kazmierczak (19), Stepanov e João Paulo (17), Leandro Lima (13), Lino (12), Hélder Postiga e Nuno E. Santo (11), Hélder Barbosa (6), Castro e Edgar (3), Ventura, Rui Pedro e Rabiola (1).

Fontes: Baú de Memórias, de Rui Anjos; Almanaque do FC Porto, de Rui Miguel Tovar.

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