FICHA DO JOGO
Imaginem um motociclista que perante uma passagem de nível fechada, com o sinal de perigo em persistente e ruidoso alarme sonoro, mas mesmo assim e com atitude de excessiva confiança, decide contornar as barreiras e arriscar a travessia, sem tão pouco cuidar de olhar em ambas as direcções. Atitude fatal! Nesse preciso momento, o comboio de alta velocidade (TGV) irrompe a toda a velocidade, trucidando o incauto motociclista.
Foi assim que eu vi este jogo entre o FC Porto e o Liverpool, não sendo difícil identificar quem é quem, nesta imagem de retórica.
A equipa do FC Porto pisou o fustigado terreno do encontro com 3 alterações no onze titular, relativamente ao jogo anterior. Regressos de Ricardo Pereira, Brahimi e do recuperado Ivan Marcano, em detrimento de Maxi e Corona, por opção e de Felipe, por castigo.
Num jogo previsivelmente complicado face à reconhecida valia do adversário, a equipa portista beneficiou de um período de cerca de 25 minutos, em que a equipa inglesa apareceu expectante como que a tomar o pulso às possibilidades portistas. Viu-se então muitas cautelas, futebol pausado, preocupação para ter bola e não a perder em situações comprometedoras, muito controle e algum respeito mutuo.
Nesse período, Otávio foi protagonista, aos 9 minutos, ao desperdiçar uma das raras oportunidades portistas, para fazer funcionar o marcador a seu favor. Falhou com o remate a ser ainda desviado por um defesa.
Começou a falhar também a lucidez ao futebol portista, com passes transviados, dificuldade de ligação e perdas de bola inconvenientes a permitir contra golpes que acabariam por ter consequências nefastas.
O Liverpool, ao contrário, foi ficando confortável no jogo, ganhando mais bola e ameaçando a área portista, com futebol rectilíneo, rápido, criterioso, ameaçador e eficaz.
Face a este maior ascendente britânico em contraposição com algum desnorte portista, os golos acabariam por surgir.
O primeiro de forma até algo fortuita. Reposição manual de José Sá interceptada no meio campo portista, seis (!) jogadores azuis e brancos (Herrera, Ricardo, Marcano, Reyes, Alex e Sérgio) concentrados no condutor da bola (Lovren), incapacitados de evitar o remate. Bola a tabelar nas costas de Diego Reyes e ressalto para o mesmo Lovren, com os mesmos seis, todos ao molho entre a marca da grande penalidade e a linha limite da grande área, mais um toque para a esquerda, onde Mané, livre de adversários, rematou fraco, fazendo a bola bater por debaixo do corpo de José Sá, resvalando para as malhas. Lance muito consentido que terminou num «peru» de Sá (25').
Se o jogo portista já denunciava fragilidades pouco habituais, a partir de então as coisas pioraram, precipitando um autêntico desnorte.
Foi um Liverpool, mais senhor do jogo, mais incisivo, mais intenso, mais demolidor que quatro minutos depois ampliou a vantagem.
Alex Telles afastou com um balão o esférico da sua área, Marega na tentativa de recolha terá sofrido falta de Milner, que o árbitro não sancionou, progressão do médio inglês com remate a bater no poste esquerdo de José Sá e a ir ao encontro de Salah, completamente solto em posição frontal, com o virtuoso egípcio a controlar a bola, a evitar o guardião portista e a marcar o segundo, num trabalho fabuloso, só ao alcance dos predestinados.
Tentou o FC Porto responder, mas sempre sem grande convicção, sem discernimento e lucidez, perdendo duelos, passes, insistindo em lançamentos longos e sobretudo em individualismos, quer de Brahimi como de Marega.
Ainda assim criou uma nova oportunidade, antes do intervalo, numa combinação perfeita entre o argelino e Soares, com o remate do brasileiro a sair rente ao poste.
No segundo tempo os Dragões apareceram com uma alteração. Otávio ficou nas cabines dando o seu lugar a Jesús Corona.
Nos primeiros minutos pareceu que os azuis e brancos estavam mais calmos, conscientes e lúcidos, ensaiaram algumas jogadas bem delineadas de ataque, mas a resposta do Liverpool foi demolidora.
Aos 53 minutos, numa jogada de contra ataque conduzida por Salah que colocou a bola em posição central, na entrada da área, onde Firmino, entre dois jogadores portistas, rematou, José Sá correspondeu com defesa de palmada para a esquerda, para a entrada fulminante de Mané que não perdoou. Jogada simples, rápida e eficaz a apanhar a defensiva azul e branca em contra pé.
Este golo acabaria com um pequeno período de algum equilíbrio lançando os ingleses para uma exibição de alto gabarito, reduzindo a pó a já de si fragilizada equipa portista que nunca mais se encontrou.
A consequência acabaria por ser devastadora com mais dois golos na baliza portista e uma incapacidade confrangedora dos jogadores do FC Porto que acuraram e de que maneira a maior valia adversária.
Firmino aos 69 minutos e Mané aos 89 minutos coloriram o resultado final.
Numa noite fria, desagradável e chuvosa, valeu o espectáculo dado pelas claques organizadas do FC Porto que nunca se calaram, apesar do duro revés.
Numa noite fria, desagradável e chuvosa, valeu o espectáculo dado pelas claques organizadas do FC Porto que nunca se calaram, apesar do duro revés.
Está pois encontrado o vencedor desta eliminatória na mais expressiva derrota de sempre em casa do FC Porto, nas provas da UEFA.
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